Wednesday, June 28, 2006

Sonhos de uma Londres de verão

É uma outra cidade essa que surge com o verão. O verde das árvores, que veio tímido com o fim do inverno, agora toma conta de todos os lugares. Com o verde, as pessoas enchem as ruas, parques, PUBs (lê-se algo como pâbi e não púbi, o que pode te trazer complicações se falar assim com um inglês) e, acreditem, até cemitérios. Tem festa e farofa por toda parte (e a cidade fica cada vez mais suja).

Por falar em forofa...
Essa forma de comemoração é feita como no Brasil. As pessoas levam comidas e bebidas para espaços públicos, ondem celebram a volta à vida, mesmo sem saber que estão comemorando essa páscoa que não é páscoa. Mas, ao contrário do povo tupiniquim, aqui não há preconceito com os farofeiros. Até porque, aqui, todo mundo é plebeu (tirando o pessoal da monarquia, é claro).

Enquanto isso...
Nas margens do River Thames (Rio Tâmisa), lá estão eles de novo. Já estava com saudades dos homens-estátuas, que só se movem com o som da moedinha atirada no chapéu (quando entra cisco no olho também. Mas um foi esperto e botou óculos escuros. Ficou estranho, porque nunca vi estátua usar óculos. Mas...).

E o céu então?
Ah. Nada daquele cinza típico das outras estações. Acreditem! No verão, o céu londrino é azul celeste e o sol queima a valer. Ainda não está assim. Mas vai ficar. Os ingleses vão deixar de ser brancos. Vão ficar rosados e ardidos. Os ônibus, que não têm ares-condiciados, vão virar o inferno de tão quente. E vai ser assim pelos próximos dois meses (ou menos).

De qualquer forma, Londres fica linda vestida com as cores do Brasil: o verde das árvores, amarelo do sol e do ouro de algumas construções daqui, azul do céu e o branco da... (deixa eu ver) Ah! Já sei! O branco das pessoas (nem todas).

* Nas fotos, gente fazendo farofa e passeando no lago de Hyde Park, homem-estátua de óculos escuros (estranho) e a multidão em Piccadilly Circus.

Tuesday, June 27, 2006

Nota de esclarecimento

Amigos, leitores e leitores amigos,

Esta semana recebi algumas reclamações de que não estou atualizando meu site. Assim, em respeito a vocês, que sempre me prestigiam com suas visitas, gostaria de esclarecer o fato. Acontece que feri seriamente meu dedo médio da mão direita. Foi um corte feio, profundo. Sangrou muito. E por conta do curativo, não pude escrever no computador. Foi só um dedo, eu sei. Mas acreditem em mim. Um dedo faz diferença. E não é só pra escrever não...

Novidades
Para mostrar que meu blog continuará com sua missão de levar entretenimento, informação e, talvez, alguma reflexão a vocês, aí vai uma prévia dos posts que serão publicados nas próximas semanas:

- Sonhos de uma Londres de verão
- Rage against de racism
- Camden Lock é mutcho lock
- Batata, batata, batata… batataaaaaa

Além das series de reportagens:

- Como viver de música em Londres
- Os piores trabalhos da cidade
- Grandes parques
- Parques marginais

Quero registrar também que haverá, pelo menos, um post novo a cada semana (como já venho fazendo). Só vai falhar se algo sério acontecer.

Esclarecimento dado, espero continuar contando com sua visita. Isso sim muito me enobrece.

Um beijo grande (ou um abraço, se preferir),
Henrique Camargo

* Provavelmente este é o único post sem foto que será publicado neste blog.

Tuesday, June 20, 2006

Quer dizer que brasileiro é tudo igual?


Para começar, devo alertar o leitor de que esta é uma história verídica. O aviso é importante, porque esse é o tipo de acontecimento que tem cheiro de conto de pescador. Provavelmente, eu mesmo não acreditaria nele se o fato não tivese ocorrido comigo mesmo.

O pré-causo
Dias atrás, durante um bate-papo no tête-à-tête com uma chinesa... Chinesa? Não. A chinesa, na verdade, era de Taiwan. Deve ser taiwanesa. Não dei muita bola para isso, porque chinês e taiwanês são todos a mesma coisa.

“A mesma coisa? Você está louco”, grita a chinesa, digo, taiwanesa, aqui na minha mente. Que medo! “Temos nossos próprios governantes. Somos um país livre”, diria ela para vocês. Pelo menos foi o que a moça disse para mim.

Ok. Chinês e taiwanês são diferentes. São tão diferentes que seria a mesma coisa de comparar um chinês a outro chinês (ou taiwanês - rerere). É muita diferença.

O causo
Despois de ficar claro que a China não tem nada a ver com Taiwan - tanto não tem, que o gigante asiático nunca pensou em mandar o exército para o nanico, porém rico, vizinho e acabar com sua frescura de emancipação -, a garota de olhos puxados, que parecia ser chinesa, falava igual chinesa, cheirava igual chinesa, comia igual chinesa, mas não era chinesa, perguntou de onde eu era.

“Sou brasileiro”, respondi.

“Eu já sabia”, treplicou.

“Como?”, perguntei.

O inesperado aconteceu. Contrariando todas as minhas expectativas de respostas, ela mandou a seguinte frase: “É que os brasileiros são todos iguais!”

Tudo bem. Chinês tem o olho fechado mesmo, não é?

* Na foto (essa sim uma mentira), quatro brasileiros passeiam nas ruas da China vestindo trajes típicos de inverno. Acho que a garota estava certa. Brasileiro é tudo igual mesmo.

Friday, June 16, 2006

O ano que não passou


Vargem Grande Paulista, 15 de junho de 2005.
Há dias pensando no dia de hoje. É hoje! Às oito da noite o avião decola. “Eita porra!”, como diria meu amigo baiano. Tenho que estar no aeroporto às 4 da tarde.

Acordo cedinho. Dou conta dos últimos preparativos da minha viagem. Tudo certo? Ok. Vambora.

Meu pai me leva para fazer algumas coisas e para me despedir de outras pessoas. O Vini, meu irmão mais novo, vai com a gente. Minha mãe, a tia Iara e minhas primas Juliane e Lígia vão me encontrar no aeroporto. Meu irmão do meio, o Fabrício, não pode ir. Trabalho!

Já são três da tarde. Chego no aeroporto antes da hora. Bom! Tenho tempo para trocar mais um dinheirinho (a moeda brasileira, por mais que você tenha – o que não era o caso -, vai ser sempre dinheirinho) e de comprar uns cadiados para as minhas malas. Meu pai e minha mãe fazem o check-in em meu lugar. Enquanto isso, como uma pizza de despedida. Não é a pizza mais gostosa do mundo. Pizza Hut. Mas tudo bem. È a pizza que eu estou acotumado a comer aqui.

Choradeira (mas nem tanto – acho que nem teve choradeira). Mesmo assim, “Affe Maria”. Tchau gente. Tchau Brasil.

Londres, 16 de junho de 2005.
Cheguei.

Um ano depois!
Quantas coisas aconteceram? Em quantos lugares estive? Quantas pessoas conheci? Muitas! Estou marcado pela cidade na carne e na alma.

Mesmo assim, a impressão é de que o ano não passou. Parece que todo dia da minha vida é o 16 de junho de 2005. Todo dia parece que estou apenas chegando aqui.

E por mais que sejam iguais, um dia é diferente do outro. E por mais diferentes, os dias são todos iguais.

Estou aqui há um ano. Parece que o ano não passou. Tive aniversário, carnaval, Natal e ano novo. Mas tudo sem gosto. Não pelas pessoas com que festejei, mas pelo significado. Não havia um. Era tudo diferente. Aquilo era tudo aquilo, mas parecia não ser.

Estou aqui há um ano: o ano mais diferente da minha vida!

* Na foto, eu há um ano pensando na morte da bezerra. Elas sempre morrem do mesmo jeito, né? Com porrada na cabeça.

Monday, June 12, 2006

Eu sou a seleção


Amanhã, 13/6, a seleção brasileira estréia na Copa do Mundo da Alemanha. Amanhã, às 8h da noite (GMT – Greenwich Mean Time), eu estréio nos campos alemães.

Não. Vocês sabem que eu não vou jogar. Sim, estou em Londres ainda.
E é por isso mesmo que amanhã, aqui nesta cidade, eu sou a seleção brasileira, assim como Heiko é a seleção alemã e Roberto, a italiana.

Na Copa do Mundo, principalmente quando estamos na Torre de Babel, cada indivíduo torna-se todo o time de sua nação. Tanto que as perguntas são: E aí? Você vai ser campeão? E eu respondo: Claro!

Brasil – il – il!!!

* Meu pescoço ainda anda torto depois de carregar as cervejas. Mesmo assim, estou lá.

Saturday, June 10, 2006

Pelados em Londres


Inglês é tão louco por futebol quanto brasileiro. Mas nem todos. Alguns são mais politicamente engajados. Tanto que o grupo World Naked Bike Ride (Ciclistas Nus do Mundo) ignorou completamente a estréia da seleção inglesa na Copa do Mundo e reuniu cerca de 500 ciclistas neste sábado (10/06), entre as 14 e 17h, em baixo do Wellington Arch, um dos pontos mais populares da cidade.

De acordo com Bernard (que nao quis dar mais detalhes do nome), de 62 anos, um dos organizadores da manifestação, neste terceiro ano do passeio - sempre realizado no sábado da semana do meio ambiente -, o objetivo é chamar a atenção das autoridades para os problemas causados pelo petróleo. “As pessoas também devem aprender a usar mais os transportes públicos ou procurar formas alternativas de locomoção, como a bicicleta. Assim, além de diminuir a poluição, teremos mais gente preocupada com uma convivência amigável entre ciclistas e motoristas”, completa.

Para aumentar a audiência
Rod Currie, um dos ciclistas participantes do passeio, diz que essa forma de protesto é muito mais produtiva do que qualquer outra. “Se não estivéssemos pelados, a imprensa não se preocuparia em cobrir e divulgar nossas idéias”, afirma o contador de 39 anos. A jovem Regan Davis concorda: “Há dois anos vou ao trabalho de bicicleta e sei muito bem quais são os perigos que corro nas ruas de Londres. Essa é uma ótima oportunidade para protestar”, diz.

O francês Fraçois Tempé também apoia a causa. Como cidadão que preteriu o carro à bike, acha que um protesto nu é muito mais eficiente. “Não acho que aqui em Londres seja tão ruim. Mas existem outros cantos do mundo em que a situção é realmente alarmante. Acredito que este evento ajude a levar a nossa idéia para outros lugares além de Londres”, conclui.

*Fotos e textos (para o meu bem ou mal): Henrique Camargo, finalista de mais um Prêmio Abril de Jornalismo

Tuesday, June 06, 2006

Os reis sem coroas


Então a monarquia acabou e/ou perdeu o poder? Não que eu saiba. A coroa, talvez, tenha apenas mudado de côco. Mas seus princípios continuam aí, no mundo todo. Assim como os velhos coroados, esses mais atuais (mas também não tanto) gozam do poder. E gozam não apenas no sentido de tirar proveito de certos privilégios, mas também no sentido de tirar sarro mesmo, haja visto o caso da Suzane.

Depois da Revolução Industrial, iniciada lá no século XVIII nesses solos ingleses que piso agora, os burgueses passaram a ser os novos reis. Com o capital acumulado, construíram seus palácios, adiquiriram suas carruagens e, principalmente, fizeram valer a lei da hereditariedade. E ainda propagandeiam por aí a possibilidade de todo mundo virar rei.

Mas se todo mundo virar rei, quem é que vai fazer o trabalho sujo?

Papo chato, né? Vai carregar 300 litros de cerveja nas costas pra ver como o seu humor vai ficar.

* Na foto, eu, de sobretudo, fazendo pose de rei em frente do Palácio de Buckingham. Também fazem pose uns carinhas e o guardinha real.

Thursday, June 01, 2006

A homogeneidade no heterogêneo

Indiano daqui, que não fala com o turco dali, que não dá bola para os mulçumanos de lá, que ignoram os pretos de cá, que não falam com os brancos de lugar nenhum que, por sua vez, ignoram todo o resto.

Nessa terra, Londres, tem gente de todo canto sim. É uma misturada louca. Mas é uma mistura que não se mistura. É água e azeite. Como ensinava o professor Daniel, o Matuza do Madreco (não há razão para explicar o apelido. Foi só para quem o conhece o reconhecer), é uma mistura heterogênea.

De vez em quando isso muda e o normal, que outrora era ver cada macaco no seu galho, passa a ser uma mixegenação cultural, cuja interatividade inter-racial rompe preconceitos de credos, cores, religiões e outras coisas do tipo. O caldo esquenta e a mistura se homogeneiza (falei pouco, mas falei bonito).

E nessa onda, você acaba aprendendo que na Holanda o ano novo é comemorado no primeiro dia da primavera. Descobre que tem mulçumano porra-louca (não no sentido de terrorista, mas que toca o terror de outras maneiras, se é que vocês me entendem). Quem tem iraniano (uma iraniana, no caso) bem diferente daquele pintado pela imprensa (e como era doce essa iraniana). Que tem preto que não gosta de preto. Quem tem gente que gosta de todo mundo. Que tem maluco que não gosta de ninguém. E que, mesmo com toda essa diferença, todo mundo é igual. É sempre a mesma história contada de diferentes formas por diferentes pessoas.

* Na foto, eu metendo o nariz em um - por que não chamá-lo assim – encontro mundial.