
- Poxa, como pode um cara tipo o Galvão não gritar gol quando é gol?
- Sei lá. Mas o Galvão grita gol.
- Não falo do Galvão propriamente dito, mas dos locutores aqui da Inglaterra. Eles não gritam gol.
- Nossa mano. Que estranho.
- Estranho!? Chega a ser nojento. Deprimente. Dá pra imaginar o Grafite fazendo um gol e o Galvão não comemorar?
- Que Grafite o quê. Eu quero é o gol do Carlitos. O Galvão adora quando o Carlitos faz gol.
- Que seja. Imagine a bola balançando a rede e o Galvão não gritar gol.
- Cê tá louco! Não quero nem imaginar. Claro que o Galvão vai gritar. Até quando a Argentina marca em cima do Brasil o maldito berra. Se não gritar no gol do Carlitos, eu vou lá na Globo e mato o desgraçado!
- Cara. É isso que eu quero te explicar. O “Galvão” aqui da Inglaterra não grita gol. Ele começa a falar um monte de coisas, que eu não entendo.
- Se você não entende, como pode saber que não gritam gol?
- Porque gol é gol no mundo inteiro!
- Mesmo aí na Inglaterra?
- Aqui também. Aliás, o primeiro gol foi marcado aqui. Eles tinham obrigação de enaltecer o feito.
- Ah tá. Entendi. Concordo plenamente.
- Gol é sagrado. Ver um sem o testemunho do grito, não tem a menor graça. Se fosse o tal do rugby, tudo bem, porque o gol não é gol mesmo.
- Mas o que é rugby? E que papo é esse de gol não ser gol? Você mesmo disse que gol é gol.
- Mas no rugby é um pouco diferente. Sabe o futebol americano?
- Sei sim.
- Então. É quase a mesma coisa. Os jogadores carregam aquela bola oval e correm em direção a uma trave em forma de estilingue. Só que eles não querem saber de proteção. É o uniforme e pronto.
- É mesmo? Eles não usam capacete não?
- Que nada! Acho que se não fosse o risco de confundir os times, eles jogariam até pelados.
- Que veadagem.
- Brincadeira... Onde é que estávamos mesmo?
- No gol.
- Não, não. Na cara do gol. Você sabe que eu perguntei pro meu professor de inglês se há algum motivo pros Galvões daqui não gritarem gol?
- E o que foi que ele disse?
- O cara falou que é ridículo alguém gritar gol. Disse que é coisa de louco.
- Mas que mané!
- É!
- Olha. Eu acho o Galvão muito chato. Insuportável, pra dizer bem a verdade. Mas ele que se atreva a não gritar no gol do Coringão. Inglês é besta, é? Eles não gostam de futebol não?
- Eles amam futebol. Tanto ou (desculpe a heresia) mais do que os brasileiros.
- Mas, pelo jeito, não gostam de gol.
- Acho que gostam sim. Na verdade, acho que preferem ganhar. Com ou sem gol, o que importa é a vitória e não o show.
- Entendi... Espera um pouco, que o Coringão está no ataque. “Parou, bateu... É gol. Goooooooooooooooooooooooooooooooooooooollllllllllllll do Corinthians. Teves.” Goooooooooooooollllllllllll irmãzinho. O Carlitos marcou mais um. Chora pó de arroz.
- (Um resmungo) Eu odeio o Galvão. Tu tu tu tu tu tu tu tu tu tu tu...
* Esta é uma obra de ficção, assim como os gols do Coringão.