Monday, May 01, 2006

A estrita relação entre o (meu) pé e a (minha) alma


- E aí cara… Seu pé também dói?
- Nem me fale isso que já dá vontade de chorar. Dói muito!
- O meu também dói. To começando a achar que minha alma fica no pé.
- Como assim?
- Meus pés estão tão dolorido que chegam a doer na alma. Ra ra ra!!!
- É. Não teve muita graça.

Vida de brasileiro em Londres é foda. Desculpe-me leitor a grosseria do vocabulário, mas a verdade é que é foda mesmo.
Claro que não a de todos os tupiniquins, descendentes multinacionais, inclusive da própria nação. Conheço alguns que se dão muito bem por aqui, como aqueles que têm passaporte europeu, falam bem inglês e tem uma boa qualificação. Mas não estou falando deles.
Os sofredores que me refiro somos eu e o Flavio. Até que falamos inglês com certa competência, temos uma boa qualificação e um currículo digno. Eu trabalhava na Editora Abril. Jornalista da área de Gerência de Comunicações, também fazia uns frilas. Um até me rendeu prêmio internacional com uma das maiores revistas brasileiras: a Superinteressante. Já Flavio é homem ligado à tecnologia. Trabalhava na Politec, uma empresa grande desse ramo. O que nos atrasa aqui é o passaporte verde e o visto de estudante, que limita muito nossa empregabilidade.
Como se percebe, tínhamos empregos bons no Brasil. Mesmo assim, largamos tudo para nos aventurar na Europa. O charme do Velho Continente nos havia seduzido. Além do que estávamos cansados da “vidinha”. Também precisávamos aprimorar o nosso parco inglês, né?
Encontramo-nos pela primeira vez no Hilton Docklands, hotel quatro estrelas localizado bem na beira do Rio Tâmisa ou, preferivelmente, The River Thames - se você é da mesma opinião de que eu: nome próprio não se muda. Ali, um dos locais mais bonitos de Londres (óbvio que na minha opinião. Ah vista de Canary Warf, na foto, é fantástica), trabalhamos em festas e eventos. Função? Garçons e carregadores de mesas e cadeiras.
Semana passada, fiz pouco mais de 50 horas em apenas quatro dia de trabalho. Um dia, fiquei quase 16 horas em pé, andando, carregando coisas, vagando pelos corredores do hotel. Pior que, no trabalho, tenho que me fantasiar de caixa do Mc Donalds. Uso calça social, camisa amarela com o símbolo do Hilton, gravata roxa e um ex-belo sapato da CNS.
Calçado bom. Quando novo, era bonito mesmo. Costumava dividi-lo com meu irmão mais novo, o Vinicius, para ir aos bailes de formatura e casamentos dos nossos amigos. Mas o solado de madeira é terrível. Chega a ser o diabo do meu inferno.
Por isso mesmo acho que a alma – a minha, no caso –fica nas solas dos pés. Explico. O diabo quer atormentar a nossa alma, não quer? Assim, atormentando meus pés ele atormenta minha alma, não atormenta? Então, se a alma não fica nos pés, fica aonde? (Caro leitor, para manter o bom nível do meu Blog, não me responda, fazendo o favor.) Se os pés não são a morada da alma, são, no mínimo, o caminho que levam até ela.
Acho que Flavio, dono de uma rotina semelhante à minha, pensa da mesma forma. Afinal, ele também usa um par de sapatos da CNS.
O meu conforto é que mesmo essas 16 horas de garçom não são tão ruins quanto as cinco de quando eu trabalhava lavando pratos. Mas essa já é uma outra história...

4 comments:

Marcos Pedroso said...

Hehehe, é meu velho, que bela iniciativa, demorada mas bela.

Cada um sabe onde o calo lhe aperta, não é mesmo? Sabedorisa popular, sempre bem a calhar...

Só fico esperando seu contato, os textos que me prometeu, o trabalho como livro... esperando, esperando.

Um beijo Irmão!

Marcos Pedroso said...

duro mesmo é ter que se cadastrar para comentar....
Libera o comentário aí velho!

M.

Henrique Andrade Camargo said...

tá liberado...
comments a vonts

Anonymous said...

...Sabe q dá até vontade de te fazer uma massagem nos pés(ou devo dizer na alma).Prá variar...vou ficar devendo...
CONTINUO ADORANDO A FORMA(eo conteudo)COMO VC ESCREVE!